Clima favorável à proliferação do fungo e baixa eficiência dos produtos podem favorecer epidemia da ferrugem da soja nesta safra
Nesta segunda-feira (19), Erlei Melo Reis, professor da Universidade de Buenos Aires, conversou com o Notícias Agrícolas a respeito dos recentes focos de ferrugem asiática que surgiram na safra atual de soja.
O primeiro foco surgiu no Paraná, onde já são 15 focos em lavouras comerciais. Há, ainda, quatro focos em São Paulo e um foco em Santa Catarina, de forma que a ordem é de atenção total por parte dos produtores.
As chuvas e o atraso da semeadura são condições favoráveis para o desenvolvimento do fungo. Os fungicidas mais conhecidos não são suficientes para a realização do controle por si só – o uso de fungicidas multissítios é essencial.
Reis explica que, caso não haja 80% de controle nas lavouras, ao menos, o custo de aplicação não é coberto. Muitas misturas comerciais não têm mais condições de controlar economicamente, o que traz riscos para a safra por falta de controle.
Alguns estados não permitem a aplicação de alguns fungicidas multissítios ou sitio específicos. Para Reis, é preciso flexibilizar as legislações porque este ponto é uma medida emergencial.
Este é o segundo maior período com focos constatados de ferrugem na data de 15 de novembro desde a safra 2019/10, que contava com 30 focos.
Com safra de soja adiantada, país pode ter maior custo com ferrugem, diz pesquisadora
SÃO PAULO (Reuters) – O Brasil tem visto focos do fungo da ferrugem asiática da soja em maior número e mais cedo neste ano, na esteira do plantio da oleaginosa mais rápido da história, o que indica a possibilidade de maiores custos para produtores controlarem a doença na safra 2018/19, disse uma pesquisadora da Embrapa.
Além disso, diante de uma maior presença da doença, o setor pode ficar mais sujeito a perdas pela ferrugem, caso erre nas aplicações, acrescentou a pesquisadora Claudine Seixas, da unidade especializada em soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em Londrina (PR).
A ferrugem da soja é a doença que mais exige investimentos dos agricultores. Ao todo, o custo com o fungo gira em torno de 2 bilhões de dólares por ano, sendo a maior parte em gastos com aplicações de fungicidas e uma fatia menor de perdas de produtividade.
“Este talvez seja um ano em que o gasto seja maior. Com a doença chegando mais cedo, corre-se o risco de ter um pouco mais de perda, mas são só hipóteses”, declarou Claudine à Reuters, por telefone.
Até o momento, o chamado consórcio antiferrugem, uma parceria público-privada que envolve pesquisadores, já registrou 17 focos da ferrugem em áreas de cultivo comerciais, enquanto no mesmo período do ano passado havia somente uma ocorrência.
A maior pressão da ferrugem no Brasil, maior exportador mundial, acontece em uma safra em que os Estados do Sul estão sendo atingidos por mais chuvas, em meio indicações de desenvolvimento do fenômeno climático El Niño, que traz mais umidade para tais regiões.
O fungo avança com mais facilidade em anos mais chuvosos e quentes. No ano passado, ao contrário, a semeadura foi mais lenta especialmente no Paraná, segundo Estado produtor brasileiro, por conta de uma seca em setembro.
Este ano, ao contrário, choveu bem mais cedo e depois as chuvas foram muito acima da média também em outubro. Foi tanta umidade que houve até uma reversão no ritmo de plantio, que passou a ficar mais lento.
“Tivemos bastantes chuvas, o que favorece o fungo. Iniciamos a safra chuvosa, e quem conseguiu semear no intervalo das chuvas, conseguiu semear bem cedo… Se pensar em época do ano, em termos de data, foi a ferrugem que tivemos mais cedo. Nunca tivemos ocorrência (do fungo) em área comercial tão cedo no Paraná”, destacou Claudine.
Ela explicou que, com o plantio de soja precoce este ano, de maneira geral a ferrugem apareceu em fases mais adiantadas das lavouras, quando ela costuma mesmo surgir.
E alerta para possível maior pressão do fungo, com a “desuniformidade” na semeadura. Enquanto alguns produtores começaram muito cedo, em setembro, outros ainda estão plantando.
“Isso acaba não sendo muito favorável, ela (ferrugem) já está produzindo inóculo do fungo para as regiões que semeiam mais tarde”, comentou a pesquisadora.
Esse cenário de mais focos também dependerá das condições climáticas ao longo da safra. “Depende muito do clima, se houver um veranico (tempo mais seco), se não favorece a soja, desfavorece a ferrugem também.”
Para a segunda quinzena de novembro, as condições climáticas devem seguir favoráveis para o disseminação do fungo na maior parte do país, cujas principais áreas agrícolas devem receber chuvas acima da média.
No Paraná, que concentra os casos de ferrugem, com 13 focos, as precipitações ficarão praticamente dentro da média em parte do Estado e acima do histórico em outros, até o final do mês, de acordo com dados do Agriculture Weather Dashboard, do Refinitiv Eikon.
A pesquisadora disse ainda que os produtores deverão ficar atentos ao aparecimento da doença, para realizar as aplicações logo que surgir.
“Uma safra como esta, em que ela apareceu mais cedo, pode ter pego o agricultor desprevenido. A primeira aplicação é de fato muito importante, e não é fácil acertar o momento.”
Dessa forma, ela comentou que é importante que o produtor não queira “calenderizar” as aplicações, quando faz o trabalho apenas com base na fase da lavoura ou do período do ano.
“O fungo é muito agressivo, o ciclo da doença é muito rápido, o ideal é pegar bem no comecinho…”
Com o plantio já caminhando para a parte final dos trabalhos no Brasil, o mercado em geral aposta em uma safra recorde superior a 120 milhões de toneladas, um volume levemente acima do esperado pelo governo.
O plantio da soja 2018/19 no Brasil chegou a 82 por cento da área total até quinta-feira, avanço de 11 pontos percentuais ante a semana passada, mantendo o ritmo como o mais rápido já registrado, disse a AgRural nesta sexta-feira.
A safra está à frente dos 73 por cento no ano passado e dos 67 por cento na média de cinco anos, segundo a consultoria.
(Por Roberto Samora, da Reutres)Por: Aleksander Horta e Izadora PimentaFonte: Notícias Agrícolas